Essa História Daria um Pagode - O Clássico Namoro de Escola

Relacionamento sempre foi algo abordado nos mais diversos meios de comunicação durante todas as eras da nossa história, e as famosas "dores de cotovelo" fazem parte de qualquer tipo de relacionamento, todo mundo já passou ou passará por isso em algum momento. Mas se pararmos para pensar, se não fosse por decepção amorosa, talvez não teríamos no mundo boas canções, invenções ou histórias, e transformar uma decepção amorosa em literatura é algo que nunca tentei fazer, mas por que não tentar compartilhar as "boas" histórias que tenho? Claro, os nomes serão trocados para preservar a imagem das pessoas, mas tirando isso, todas essas histórias são baseadas em fatos reais (embora às vezes o meu lado escritor possa querer dar uma romantizada pra deixar as coisas mais interessantes). E pensei como começar, em qual história seria um bom início, e pensei "Por que não começar pelo princípio? Pelo romance de escola?", afinal, acho que isso é algo que aconteceu com pelo menos 90% dos estudantes, então seria um bom começo.

Claro, não tive apenas um namoro de escola, mas alguns (pela minha conta foram seis, eu acho), mas de todos eles, talvez o mais marcante seja o da Carla (nome fictício, embora a fonética seja parecida com o nome real dela). Imagine só, primeiro dia de aula no primeiro ano do ensino médio numa escola completamente nova, então chego eu, um adolescente com um milhão de espinhas na cara, tímido ao extremo, usando roupas largas, boné e um cabelo digno de causar inveja num astro de ação dos anos 70, resumindo, um pré adolescente completamente estranho num mundo novo, o que poderia dar errado?

Felizmente reconheci um colega na minha sala de aula de outra escola, e como um bom oportunista, fui sentar ao lado dele, porém ele já era veterano e me apresentou para o ciclo de amigos deles na sala, um deles era um outro novato, porém já um conhecido desse meu colega, vamos chamá-lo de Sérgio. Como eu e Sérgio tínhamos coisas em comum e ele era muito mais extrovertido e conseguia falar com todo mundo, começamos a conversar até a hora do recreio, bem, vale ressaltar que eu não prestei muita atenção no resto da sala, afinal só me preocupei com aquele grupinho.

E chegou a hora do recreio, e como eu era extremamente tímido, fiquei me segurando a primeira parte da aula inteira para ir ao banheiro com vergonha de pedir permissão para a professora, então a primeira coisa que eu fiz quando o sinal do recreio tocou foi ir ao banheiro, já o Sérgio saiu direto para o recreio. Como eu estava muito apertado, demorei um tempo no banheiro e depois disso fui procurar o Sérgio no pátio (afinal, ficar sozinho no Recreio seria deprê), então eu avistei o meu mais novo coleguinha de classe conversando com uma garota num banco sobre um livro que ela estava lendo, mesmo tímido e com medo de ser um famoso "segura vela", fui de encontro aos dois.

- Oi, oi... - Foi tudo que eu consegui dizer naquele momento, não consegui pensar em nenhum tipo de assunto.

- Ah, Tom, essa é a Carla. Ela é da nossa sala. - Sérgio disse.

Então eu olhei pra Carla e eu vi uma garota também tímida, mas inacreditavelmente linda, talvez uma das garotas mais lindas que eu já havia visto na minha vida até aquele momento, e dei uma olhada na capa do livro que ela estava lendo e era um livro de Stephen King que eu já tinha lido, afinal é o meu autor favorito. Obviamente, pensei que uma garota dessas era muito pra mim, o que uma garota linda dessas poderia querer com um estranho como eu? Mas felizmente, Sérgio me apresentou pra ela, então tudo que eu tinha que fazer era falar algo bacana e não estragar tudo.

- Não te notei na sala...

DROGA, isso foi o melhor que consegui falar, não funciono sob pressão, poderia ter comentado sobre o livro, mas tudo que eu consegui falar a princípio foi isso! Mas felizmente ela respondeu.

- É que eu estou sentada na última cadeira da sala, eu sou meio tímida pra aparecer, então evito que me notem. - Que bom, pelo menos ela não considerou o que eu falei como uma rejeição.

Nesse momento o Sérgio saiu de cena e foi comprar um salgado, ele só estava esperando a fila interminável da cantina diminuir, e me deixou sozinho lá com a Carla, e como eu não iria comer nada e ela aparentemente também não, sentei ao lado dela no banco.

- Sabe, o Stephen King é o meu escritor favorito... - Eu disse, estava parecendo um autista mas pelo menos consegui puxar o assunto que eu queria.

Depois disso começamos a conversar não só sobre o livro em questão, mas também sobre outras obras do King, o que ligou para o nosso assunto de filmes de terror, nossa, ela era fã de terror, que garota perfeita! Quero ficar aqui e conversar mais com ela...

O sinal toca, fim do recreio.

Droga, acabou o recreio, ela vai voltar para o fundão enquanto eu e o Sérgio vamos ficar no nosso canto, queria conversar mais com ela, até que o Sérgio se reencontra com a gente antes de voltarmos pra sala.

- Então, Carla, se você quiser, pode pegar as suas coisas e sentar perto da gente, tem uma cadeira vaga do lado do Tom. - Ele disse, e caramba, era tudo que eu queria! Diga que sim, Carla, por favor!

- Tudo bem. - ISSO! Ela vai sentar do meu lado, finalmente tive alguma sorte.

Bem, sentamos juntos e começamos a conversar, eu não conseguia desgrudar meus olhos dela, tínhamos tanta coisa em comum e ela era inacreditavelmente linda. Parei até de dar muita atenção para o Sérgio, que estava do meu outro lado, até que em um determinado momento ele disse.

- Ihhh, acho que tá rolando um clima de romance aí, hein...

Droga, ele já reparou, e claro, como um bom adolescente nerd e tímido eu respondi do jeito que deveria ser respondido.

- Que nada cara, é só na amizade. - Parabéns, estraguei tudo de novo. - Ela deve ter até namorado...

- Eu não tenho não... - Ela respondeu, deu uma risadinha e abaixou a cabeça, o que será que essa reação dela significava? Estava me dando condições ou foi só uma resposta mesmo?

- Sério? - Só consegui responder isso.

- Sim. - E voltou a ficar de cabeça baixa.

Então a aula foi rolando e o Sérgio fez novos amigos na sala, inclusive o colega que eu já conhecia, e a galera começou a sentar perto da gente, eu conversei com todos mas claro, dava maior atenção pra Carla, só que agora, além do Sérgio pilhando o possível romance, tinha mais gente junto com ele fazendo o mesmo. Enfim, acabou o primeiro dia de aula, consegui sobreviver e foi um primeiro dia infinitamente melhor do que eu estava pensando, não esperava a hora de ir pra escola no dia seguinte e rever a Carla.

O dia seguinte chegou e claro, eu me arrumei melhor pra ir para a escola (como eu ainda não tinha uniforme, eu podia ir de roupa normal), vesti a melhor roupa que eu tinha e fui, cheguei um pouco antes do sinal bater, e lá estava o Sérgio conversando com a Carla, cheguei perto dos dois e conversamos, sentamos juntos e mais uma vez, começaram e shippar eu e ela, o sinal do recreio bateu e assim como no dia anterior, eu fui ao banheiro, só que dessa vez, o Sérgio foi junto comigo, e lá nós conversamos.

- Cara, antes de você chegar, eu estava conversando com a Carla, e ela tem interesse em você. - Ele disse, obviamente, eu não acreditei.

- Que isso? Como você pode saber disso?

- Eu estava conversando com ela antes de você chegar e perguntei se ela ficaria com você, então ela respondeu que te acha um cara interessante e que não sabia se ficaria com você, mas se você conversar com ela sobre isso as chances são altas.

- Mas o que eu vou falar com ela?

- Só fica sozinho com ela e fala que a quer, chega nela agora no recreio e diz.

- No recreio vai ser muito corrido... Já sei! Vou dizer que quero falar com ela na hora da saída e enquanto isso eu penso em como vou dizer isso pra ela. - Traduzindo, preciso de um tempo pra tomar coragem.

E quando saímos do banheiro eu disse que queria falar a sós com ela na hora da saída, ela insistiu pra eu dizer ali, naquele momento, mas consegui adiar com a justificativa que o pátio estaria vazio na hora da saída e poderíamos conversar sem o risco de sermos interrompidos (o que não deixa de ser verdade). Ela concordou e fiquei o resto da aula inteira respirando fundo pra tomar coragem, enquanto o Sérgio e a galera dele continuavam pilhando a gente. Até que finalmente o sinal bateu e enquanto todo mundo foi pra saída, eu e Carla fomos na direção oposta, em frente ao pátio. Chegamos lá e eu fiquei alguns segundos travado olhando pra ela, sem saber o que dizer, até que eu lembrei da minha conversa com o Sérgio e simplesmente abri a boca e comecei a falar, sem pensar muito.

- Então, Carla, sabe as brincadeiras que o Sérgio e a galera dele fazem sobre a gente? Eu até me sinto desconfortável sobre isso, mas tudo aquilo que eles dizem sobre eu gostar de você é verdade, e queria saber se podemos tentar algo além da amizade... - Nesse momento eu estava suando frio, o que eu estava fazendo ali? Ela é linda e maravilhosa, é óbvio que eu iria tomar um fora agora.

- Tudo bem, eu também to gostando de você, podemos tentar... - Caramba, ela correspondeu! Nesse momento meu coração tava a milhão. - Então... Como a gente começa?

- Assim... - Eu disse isso e logo em seguida comecei a beijá-la.

Isso estava acontecendo, eu estava ali, beijando a garota mais bonita da sala e uma das mais bonitas da escola, era real, estávamos ali, somente eu e ela... Ou quase...

- YEEEES!!! - Ouvi esse grito vindo atrás do portão do pátio, era o Sérgio e aquele meu outro amigo, eles estavam escondidos lá vendo tudo e comemoraram o beijo.

Eu comecei a rir, claro, mas o beijo dela era tão bom que voltei a beijá-la, nunca tinha ficado com uma garota que beijava tão bem como ela, até que fomos interrompidos de novo, dessa vez era o inspetor da escola, ela deu uma bronca na gente dizendo que não é permitido beijos na escola e nos ordenou a ir para a saída. Nem preciso dizer que voltei pra casa com um sorriso de orelha a orelha.

As próximas duas semanas que se sucederam foram incríveis, na hora do recreio era apenas eu e Carla num canto longe dos olhos do inspetor nos beijando, chegando em casa um telefonava para o outro (não existia Whatsapp nessa época) e como todo namoro de escola que se preze, a gente não se via ou se encontrava em outro lugar que não seja a escola, mas eu não ligava, pois estava indo tudo muito bem, eu estava me apaixonando, a via todo dia... Mas aí entrou o recesso de carnaval.

Obviamente não nos encontramos durante o período de carnaval, só nos falávamos por telefone mesmo, mas ficamos uns três dias seguidos sem se falar pois ela havia viajado. Finalmente o carnaval acabou e as aulas iriam voltar, eu estava ansioso para revê-la.

Logo no primeiro dia ela disse na hora da entrada que iria sentar com umas amigas com quem ela estava conversando antes de eu chegar, eu estranhei, mas aceitei. Junto com as amigas dela, havia um cara que não havia ido para a escola em nenhum dia antes do carnaval, vamos chamá-lo de Rodrigo, ele claramente parecia um repetente, era alto, forte e tinha uma barba por fazer, eu a vi de longe e ela estava trocando uma ideia com ele e dando risadas, eu senti ciúmes, claro, mas relevei, até porque ficamos juntos no recreio, como de costume.

No dia seguinte a mesma coisa, ela sentou longe de mim e perto das garotas e do Rodrigo, o Sérgio até chegou a me perguntar se a gente havia terminado, eu respondi que não, nesse dia eu a vi dando menos atenção para as garotas e mais atenção para o Rodrigo, mais uma vez, ela passou o recreio comigo, mas sugeriu que a gente passasse no pátio dessa vez e não no nosso canto, eu aceitei e apesar de ficar do meu lado, ela foi conversar com as amigas dela e com o Rodrigo, pra eu não ficar quieto num canto, eu puxei assunto com ele e até o achei um cara legal.

No terceiro dia de aula pós carnaval eu cheguei mais cedo e ela estava lá, ela queria ter uma conversa comigo, então fomos para um canto.

- Olha, vou ser bem direta. - Ela disse. - Eu preciso focar nos meus estudos, e não consigo conciliar estudos com namoro, então desculpa, mas não dá pra continuarmos, mas podemos ser amigos.

Aquilo foi como um soco no meu estômago, aceitei a amizade dela, claro, mas por dentro eu estava desolado, e piorou depois do que eu vi mais tarde durante a aula: A Carla e o Rodrigo de mãos dadas, e ele fazendo cafuné nela, com certeza eram características de um romance, a dor de cotovelo foi maior. Nos próximos dias foi confirmado que ela e o Rodrigo estavam juntos, numa tentativa de reaproximação dela, fiz amizade com ele, e a amizade com ele até funcionou, mas não consegui me reconciliar com ela, ficamos só na amizade mesmo. Teve um momento em que eu ouvi até mesmo uma amiga dela dizendo que o Rodrigo era melhor que eu, o que obviamente foi mais um soco no estômago.

Depois de uns dias o Rodrigo começou a sentar perto de mim e do Sérgio e a Carla do outro lado da sala com as amigas dela, então o Rodrigo me disse que ela deu um fora nele, então ficamos amigos. Dias depois eu vi a Carla beijando um vendedor de Icegurt que ia todo dia em frente a escola, ironicamente eu o conhecia e conversava com ele, então ele confirmou que estava saindo com ela, dias depois ele me disse que ela rompeu com ele.

Eu e o Rodrigo nos reaproximamos da Carla, e descobrimos que ela estava com um novo namorado, alguém fora dos arredores da escola. Mesmo assim ela ainda blefava conosco de vez em quando, teve um dia que durante um jogo de "Eu Nunca", ela até permitiu umas mãos bobas minhas, mas nunca nos reconciliamos de fato.

Por fim, o ano letivo acabou e tanto a Carla quanto Rodrigo e Sérgio saíram da escola, eu ainda mantive contato com o Rodrigo por uns seis meses pois começamos a tocar na mesma banda, fiquei sabendo que ele se tornou militar, mas depois disso nunca mais tive contato com nenhum deles. Recentemente eu procurei o perfil da Carla nas redes sociais, e descobri que ela atualmente está casada e já é mãe! Bem, eu aprendi nesse relacionamento que é necessário conhecer a pessoa além das coisas em comum, pois as aparências enganam.

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