"Quando tudo está perdido, sempre existe um caminho. Quando tudo está perdido, sempre existe uma luz" - Renato Russo
Pensei bem se eu escreveria alguma coisa sobre o que aconteceu
hoje, estou abalado demais para descrever o que aconteceu. Neste momento minhas
lágrimas estão caindo nestas folhas, enquanto continuo usando esta camisa
manchada de sangue. Tentarei escrever sobre o que aconteceu porque preciso
preencher minha mente, neste momento são 4 horas da manhã e não irei conseguir
dormir de jeito nenhum, não depois do que aconteceu. É incrível como um dia
comum e normal pode se tornar o pior dia da sua vida em questão de segundos.
Como hoje é sexta-feira resolvi sair com a Luana, já que não
conseguimos fazer muita coisa no nosso aniversário de namoro há duas semanas
atrás por causa de nossos empregos, resolvi compensar hoje, telefonei para ela.
- Hoje eu estava a fim de ir naquela boate nova em Madureira. –
Ela disse pelo telefone.
- Ok, tudo bem. – Respondi e desligamos o telefone.
Quando cheguei do trabalho, apenas passei em casa para trocar de
roupa.
- Vai sair com a Luana? – Minha mãe perguntou.
- Sim, mãe.
- Eu gosto da Luana, ela é bem bonita e simpática. E você está
bem elegante. – Ela disse após me ver usando uma camisa polo que ela mesma me
deu.
- Obrigado... Estou indo, mãe, voltarei tarde, não me espere
acordada.
- Ok, filho. Tchau.
Busquei a Luana em sua casa e de lá fomos até a boate. O lugar é
bem legal, é escuro, mas pelo menos é espaçoso. Chegando lá, fomos até o bar da
boate, pedimos Whisky e bebemos enquanto conversávamos. Eu estava bem feliz
naquele momento, só a companhia da Luana me deixava feliz, até que alguém se
aproximou e me cumprimentou.
- Cara, não esperava te encontrar aqui! – Era o Jimmy, ele falou
quase gritando por causa do som alto da música. Ele também cumprimentou a
Luana.
- E aí, cara? Senta aí. Quer uma bebida? – Eu perguntei, mas
quando olhei para seu rosto vi que ele já parecia bem bêbado.
- Não, tá tudo bem, um colega meu vai trazer algo pra mim.
- E o emprego, já se acostumou a dar aulas? – Luana perguntou em
tom de brincadeira.
- Sim, mas é difícil porque sempre tem algum aluno que não quer
saber de nada... Ser professor de História é difícil.
- A culpa foi sua, foi você que escolheu isso pra sua vida. –
Luana sempre foi brincalhona.
- Eu sei. – Jimmy riu.
Nesse momento alguém se aproximou de Jimmy e o entregou algo
enrolado em um saco plástico, no primeiro momento não consegui ver o que era. O homem que entregou isso para o Jimmy era bem estranho, após isso
o homem disse algo no ouvido do Jimmy e foi embora.
- Já volto, gente. – Jimmy disse e foi até o banheiro, nesse
momento eu nem precisei ver o que havia dentro do saco para entender. Jimmy voltara a usar crack.
Não acreditei nisso, precisava ver para crer, disse para a Luana
que iria ao banheiro. Chegando lá, me deparei com o Jimmy sentado no vaso e segurando uma enorme predra de crack, se preparando para usá-la.
- Você tá maluco, cara? Se esqueceu do que essa droga fez
contigo antes? Isso quase te matou! – Eu disse, enfurecido.
- Agora eu consigo me controlar... Me deixa... Henrique... Só...
Me deixa. – Ele já estava bem drogado.
- Vamos embora, eu chamo um táxi.
Levantei o Jimmy e o conduzi até a saída, mandei ele esperar ali na porta e passei na Luana.
- Amor, espera aqui, o Jimmy está muito bêbado, vou lá fora
chamar um táxi para levá-lo em casa.
- Tudo bem, eu espero aqui.
Jimmy já estava na rua, ele não me esperou. Quando saí o vi
conversando com dois caras estranhos, me aproximei devagar.
- VOCÊ DISSE QUE IRIA ME PAGAR HOJE, SEU MERDINHA! VOCÊ JÁ TÁ ME
DEVENDO UM MÊS! – Um dos caras gritou para o Jimmy.
Logo reconheci um dos caras, era o mesmo que havia entregado o crack para o Jimmy dentro da boate, continuei me aproximando devagar, quando
vi esse cara puxar uma pistola de sua cintura e disparar contra o peito de
Jimmy à queima roupa.
Os caras correram depois do disparo, não vi para onde, naquele
momento só me preocupei com o Jimmy. O barulho do tiro foi tão alto que as
pessoas de dentro da boate ouviram, mesmo com a música alta. A maioria das
pessoas saíram da boate, incluindo a Luana.
Jimmy estava sangrando muito, o abracei, seu sangue acabou
manchando minha camisa. Ele estava pálido e sem reação, quando o encostei
percebi que ele estava começando a ficar gelado.
- ALGUÉM LIGA PARA UMA AMBULÂNCIA, RÁPIDO! – Eu gritei, olhei
para a Luana e a vi correndo na direção de um orelhão ali perto, antes de vê-la
chegar ao orelhão, percebi que ela estava chorando.
Os olhos de Jimmy estavam fixos em meu rosto, sem nenhum tipo de
expressão, eu comecei a me desesperar ainda mais.
- Calma, cara... A ambulância já tá vindo... – Eu disse, não
obtive resposta.
Passaram-se uns 5 minutos e a ambulância chegou, acompanhei o
Jimmy, e Luana estava comigo. Chegamos ao hospital, Jimmy foi levado
imediatamente para a sala de cirurgia em uma maca, fiquei na sala de espera com
a Luana, se passaram quase 3 horas e ainda nenhuma resposta. Até que finalmente
apareceu um médico.
- Nós tentamos tudo... Mas infelizmente ele não resistiu aos
ferimentos... Sinto muito. – O médico disse.
Naquele momento, eu desabei em prantos, procurei conforto nos
braços de Luana, sem resultados, ela também estava chorando. Voltei para casa,
Luana estava comigo e contou tudo para a minha mãe, ela também chorou. Não
consegui ver a minha mãe naquele estado, disse para a Luana ficar com ela e vim
para o quarto.
Até agora não consigo acreditar que o Jimmy morreu, parece que
tudo isso é uma grande pegadinha armada por ele, eu quero acreditar que é,
quero acordar desse pesadelo.
Hoje foi o pior dia da minha vida. Perdi o melhor amigo que uma
pessoa poderia ter...
Eu poderia ter salvado ele... Eu poderia...
Henrique Soares, 25 de Agosto de 2000.
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