Minha Vida Injusta - Parte 10: 25 de Agosto de 2000


"Quando tudo está perdido, sempre existe um caminho. Quando tudo está perdido, sempre existe uma luz" - Renato Russo

Pensei bem se eu escreveria alguma coisa sobre o que aconteceu hoje, estou abalado demais para descrever o que aconteceu. Neste momento minhas lágrimas estão caindo nestas folhas, enquanto continuo usando esta camisa manchada de sangue. Tentarei escrever sobre o que aconteceu porque preciso preencher minha mente, neste momento são 4 horas da manhã e não irei conseguir dormir de jeito nenhum, não depois do que aconteceu. É incrível como um dia comum e normal pode se tornar o pior dia da sua vida em questão de segundos.



Como hoje é sexta-feira resolvi sair com a Luana, já que não conseguimos fazer muita coisa no nosso aniversário de namoro há duas semanas atrás por causa de nossos empregos, resolvi compensar hoje, telefonei para ela.



- Hoje eu estava a fim de ir naquela boate nova em Madureira. – Ela disse pelo telefone.



- Ok, tudo bem. – Respondi e desligamos o telefone.



Quando cheguei do trabalho, apenas passei em casa para trocar de roupa.



- Vai sair com a Luana? – Minha mãe perguntou.



- Sim, mãe.



- Eu gosto da Luana, ela é bem bonita e simpática. E você está bem elegante. – Ela disse após me ver usando uma camisa polo que ela mesma me deu.



- Obrigado... Estou indo, mãe, voltarei tarde, não me espere acordada.



- Ok, filho. Tchau.



Busquei a Luana em sua casa e de lá fomos até a boate. O lugar é bem legal, é escuro, mas pelo menos é espaçoso. Chegando lá, fomos até o bar da boate, pedimos Whisky e bebemos enquanto conversávamos. Eu estava bem feliz naquele momento, só a companhia da Luana me deixava feliz, até que alguém se aproximou e me cumprimentou.



- Cara, não esperava te encontrar aqui! – Era o Jimmy, ele falou quase gritando por causa do som alto da música. Ele também cumprimentou a Luana.



- E aí, cara? Senta aí. Quer uma bebida? – Eu perguntei, mas quando olhei para seu rosto vi que ele já parecia bem bêbado.



- Não, tá tudo bem, um colega meu vai trazer algo pra mim.



- E o emprego, já se acostumou a dar aulas? – Luana perguntou em tom de brincadeira.



- Sim, mas é difícil porque sempre tem algum aluno que não quer saber de nada... Ser professor de História é difícil.



- A culpa foi sua, foi você que escolheu isso pra sua vida. – Luana sempre foi brincalhona.



- Eu sei. – Jimmy riu.



Nesse momento alguém se aproximou de Jimmy e o entregou algo enrolado em um saco plástico, no primeiro momento não consegui ver o que era. O homem que entregou isso para o Jimmy era bem estranho, após isso o homem disse algo no ouvido do Jimmy e foi embora.



- Já volto, gente. – Jimmy disse e foi até o banheiro, nesse momento eu nem precisei ver o que havia dentro do saco para entender. Jimmy voltara a usar crack.



Não acreditei nisso, precisava ver para crer, disse para a Luana que iria ao banheiro. Chegando lá, me deparei com o Jimmy sentado no vaso e segurando uma enorme predra de crack, se preparando para usá-la.



- Você tá maluco, cara? Se esqueceu do que essa droga fez contigo antes? Isso quase te matou! – Eu disse, enfurecido.



- Agora eu consigo me controlar... Me deixa... Henrique... Só... Me deixa. – Ele já estava bem drogado.



- Vamos embora, eu chamo um táxi.



Levantei o Jimmy e o conduzi até a saída, mandei ele esperar ali na porta e passei na Luana.



- Amor, espera aqui, o Jimmy está muito bêbado, vou lá fora chamar um táxi para levá-lo em casa.



- Tudo bem, eu espero aqui.



Jimmy já estava na rua, ele não me esperou. Quando saí o vi conversando com dois caras estranhos, me aproximei devagar.



- VOCÊ DISSE QUE IRIA ME PAGAR HOJE, SEU MERDINHA! VOCÊ JÁ TÁ ME DEVENDO UM MÊS! – Um dos caras gritou para o Jimmy.



Logo reconheci um dos caras, era o mesmo que havia entregado o crack para o Jimmy dentro da boate, continuei me aproximando devagar, quando vi esse cara puxar uma pistola de sua cintura e disparar contra o peito de Jimmy à queima roupa.



Os caras correram depois do disparo, não vi para onde, naquele momento só me preocupei com o Jimmy. O barulho do tiro foi tão alto que as pessoas de dentro da boate ouviram, mesmo com a música alta. A maioria das pessoas saíram da boate, incluindo a Luana.



Jimmy estava sangrando muito, o abracei, seu sangue acabou manchando minha camisa. Ele estava pálido e sem reação, quando o encostei percebi que ele estava começando a ficar gelado.



- ALGUÉM LIGA PARA UMA AMBULÂNCIA, RÁPIDO! – Eu gritei, olhei para a Luana e a vi correndo na direção de um orelhão ali perto, antes de vê-la chegar ao orelhão, percebi que ela estava chorando.



Os olhos de Jimmy estavam fixos em meu rosto, sem nenhum tipo de expressão, eu comecei a me desesperar ainda mais.



- Calma, cara... A ambulância já tá vindo... – Eu disse, não obtive resposta.



Passaram-se uns 5 minutos e a ambulância chegou, acompanhei o Jimmy, e Luana estava comigo. Chegamos ao hospital, Jimmy foi levado imediatamente para a sala de cirurgia em uma maca, fiquei na sala de espera com a Luana, se passaram quase 3 horas e ainda nenhuma resposta. Até que finalmente apareceu um médico.



- Nós tentamos tudo... Mas infelizmente ele não resistiu aos ferimentos... Sinto muito. – O médico disse.



Naquele momento, eu desabei em prantos, procurei conforto nos braços de Luana, sem resultados, ela também estava chorando. Voltei para casa, Luana estava comigo e contou tudo para a minha mãe, ela também chorou. Não consegui ver a minha mãe naquele estado, disse para a Luana ficar com ela e vim para o quarto.



Até agora não consigo acreditar que o Jimmy morreu, parece que tudo isso é uma grande pegadinha armada por ele, eu quero acreditar que é, quero acordar desse pesadelo.



Hoje foi o pior dia da minha vida. Perdi o melhor amigo que uma pessoa poderia ter...



Eu poderia ter salvado ele... Eu poderia...



Henrique Soares, 25 de Agosto de 2000.

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