Minha Vida Injusta - Parte 9: 18 de Julho de 1998


Como hoje foi o meu dia de folga no trabalho resolvi sair sozinho, já que o Jimmy estava atolado no seu TCC, nem o chamei. Fui ao cinema assistir ao filme "Cidade dos Anjos". Apesar de eu ter entrado na sessão quando o filme já estava na metade, eu gostei, foi divertido. Depois disso, decidi dar uma volta pelo shopping.

Enquanto eu estava lá, caminhando, acabei encontrando uma pessoa que eu não via há muito tempo, a Luana, aquela que fazia a reabilitação junto comigo e com o namorado dela, o Felipe, estranhei porque naquele momento ela estava sozinha. Cumprimentamo-nos.

- Quanto tempo faz que a gente não se vê? Uns dois anos? – Ela perguntou.

- Por aí, foi desde o fim da nossa reabilitação. – Respondi.

- Então, o que você anda fazendo por aqui?

- Apenas dando uma volta, é o meu dia de folga. E você?

- Também. Não tinha nada pra fazer em casa, então resolvi vir pra cá.

- Bem, já que estamos aqui, aceita um lanche? Eu pago. – Eu já estava querendo fazer um lanche mesmo, pelo menos agora eu tinha companhia.

- Tudo bem.

Fomos lanchar em um McDonald’s ali perto mesmo, pedimos combos, procuramos uma mesa e comemos, após isso conversamos.

- E o Felipe? Estranhei dele não estar aqui com você. – Eu fui sincero.

- Na verdade nem eu sei onde ele está e nem quero saber... Nós terminamos, já faz um ano mais ou menos, não estava dando certo. Na última vez que tive notícias dele estava tudo bem, ele conheceu uma garota chamada Simone e parece estar bem feliz com ela. E a Rafaela?

- Também terminamos, já faz um bom tempo. – Dei uma pausa para pensar - Ela acabou me traindo, nunca mais a vi desde então.

- Nossa, que chato. Mas ta tudo bem, essas coisas acontecem na vida.

- Eu sei. Você arrumou um emprego, ta fazendo faculdade ou alguma coisa assim?

- To trabalhando em um escritório, como assistente do chefe, é até um emprego legal, e ganho bem. E você? Continua no jornal? Já começou a escrever artigos lá?

- Sim, continuo no jornal, mas ainda estou na edição, ainda não escrevi nenhum artigo, mas tenho fé de que o momento vai chegar e em breve devo ser chamado de “o novo Nelson Rodrigues”.

Nesse momento Luana riu, sua risada era contagiante. Depois houve uma pausa.

- Sabe, esse lance de vida amorosa é muito louco, eu estava com o Felipe há anos, praticamente crescemos juntos, mas no fim nada aquilo importou, simplesmente acabou. – Ela começou a falar num tom de timidez.

- Não diga que no fim nada daquilo importou, claro que importou, vocês se amaram por um bom período, eu lembro que você estava bem feliz ao lado dele, só por causa disso valeu a pena. Sabe, são pequenos momentos desses em nossa vida que realmente precisam ser lembrados, os poucos momentos de felicidade. Vocês acabaram terminando... Sim, isso é chato, mas eu recomendo que você apenas se lembre das coisas boas que ocorreram naquele período em que vocês ficaram juntos. – Eu disse isso num tom de voz meio elevado.

- Você pratica essa técnica com as suas lembranças de seu relacionamento com a Rafaela?

- Eu tento. Apenas... Tento.

Houve outra pausa.

- Bem, ainda ta meio cedo. O que a gente pode fazer agora? – Luana perguntou.

- Acabei de assistir "Cidade dos Anjos", porém eu vi o filme pela metade... Se você quiser podemos ir comprar ingresso para a próxima sessão, daí eu consigo assistir a outra metade, e prometo não contar nada sobre a parte que eu vi.

- Hum... – Ela ficou pensando na resposta por um bom tempo. – Tudo bem, podemos ir.

Compramos o ingresso e assistimos ao filme, vi a parte que eu perdi. Lá pela metade da projeção a Luana encostou a cabeça em meu ombro, eu retribui o gesto abraçando-a, quando percebemos, estávamos nos beijando, foi um beijo longo, maior do que qualquer beijo que tive com a Rafaela. Os lábios de Luana são delicados e doces, o que fez o beijo ser melhor ainda, quando terminamos, o filme já havia acabado e os créditos estavam subindo na telona.

- Nossa! Já está tarde, tenho que ir. – Ela disse após sairmos da sala do cinema.

- É, foi bem legal. – Usei essa frase como forma de respondê-la.

- Sim, foi... – Ela puxou um papel e uma caneta de dentro da bolsa, anotou algo e me entregou o pedaço de papel. – Aqui está o meu telefone. Me liga? Vamos marcar para nos encontramos novamente?

- Ok, ligo sim, marcaremos sim.

Nos despedimos com um selinho e fomos embora, eu não conseguia conter o meu sorriso durante todo o meu percurso de volta para casa. Resolvi guardar o numero do telefone da Luana no meio das páginas deste diário porque é um lugar onde eu tenho certeza de que não irei perder, já que eu guardo o meu diário muito bem e o trato com carinho, e também sei que ninguém mexe aqui além de mim.

Já está meio tarde então resolvi não telefonar para ela agora, irei esperar até amanhã.

Não vejo a hora de me reencontrar com a Luana...

Henrique Soares, 18 de Julho de 1998.

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