Eu queria muito fumar cigarro. Quer dizer, eu não fumo porque eu tenho essa mania de fazer escolhas saudáveis pra minha vida. Mas eu observo o fumante e tenho inveja dele. O fumante é, antes de tudo, um resignado. Já aceitou que a vida é uma causa perdida, já aceitou a inexorabilidade do tempo e já aceitou esse time do Vasco. Já que vai dar merda de qualquer jeito é melhor acender um cigarrinho enquanto há tempo.
Eu queria muito aceitar as coisas também. O cigarro traz essa aceitação. Eu acho que o tabagismo é a solução pra todos os meus problemas. Ninguém é mais tranquilo e dono da situação que a pessoa que fuma. Porra, eu queria muito ser dono de uma situação um dia.
Há uma certa contemplação no discurso da pessoa que fala enquanto fuma. As pausas para tragadas adicionam um suspense duro de igualar, o peso das palavras se transforma.
“Daqui a pouco eu tenho que ir ali…” (tragada)
Ai meu caralho. Ela tá indo! Ir ali onde? Com certeza é alguma coisa importante. Que mistério. Eu não sei se vou aguentar. Eu preciso saber onde ela vai. E por que ela vai. E como ela vai. Isso se é que ela vai. Pode ser que ela nem vá. Ela pode tá jogando comigo. Eu to achando que ela não vai é nada. Será que eu vou também? Não… eu, Everton Loureiro, indo? Acho que não. Acho que isso não é pra mim. Meu Deus, que aflição. Aaahh, se eu tivesse um cigarrinho aqui comigo. Ai eu ia tá de boa. Era só acender e entrar nessa contemplação. Eu aposto que não tem laço mais forte que duas pessoas que fumam juntas. Ai meu Deus, ela tá mexendo a boca, ela vai falar!
“…comprar mais cigarro”.
Puta que pariu, eu sabia que era importante.
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