Minha Vida Injusta - Parte 4: 18 de Março de 1988

Hoje o dia poderia ter sido normal, mas aconteceram coisas que eu não imaginava que iriam acontecer, e como prometi escrever aqui sempre que ocorrer algo importante na minha vida, vamos lá.

Acordei cedo e tive que me apresentar no exército, foi uma merda, discuti com um garoto e o sargento de lá disse que iria me fazer servir só por causa disso, o que não aconteceu, já que fui reprovado no exame de vista, devo dizer que ultimamente não ando enxergando muito bem, deve ser miopia, preciso providenciar uns óculos.

Cheguei com sono em casa e dormi, acordei já no fim de tarde. No meu aniversário de 18 anos, ganhei um toca discos de minha mãe, eu sempre ouvia uns discos do David Bowie que o Jimmy me emprestava, e hoje não foi diferente.

Fui até um orelhão e liguei para a Rafaela, marcamos para ir na Lapa, ela disse que iria entrar em contato com o Jorge também, ele já estava a um bom tempo afastado da gente, fui até a casa do Jimmy para ver se ele também iria, mas ele estava passando muito mal pois misturou bebidas e pegou uma puta ressaca, infelizmente o Jimmy ainda não se conformou com o término do seu namoro com a Simone, já faz uma semana e ele enche a cara todos os dias desde então.

Chegando à Lapa, encontrei com Rafaela, ela estava bem bonita, com um vestido preto e usando meia calça, começamos a beber vodca para entrar no clima.

- O Jorge disse que vem e vai trazer uísque. – Ela me disse, logo depois, Jorge chegou, ele estava horrível, muito acabado, cabeludo e barbudo.

- Vocês ainda estão no álcool?! Isso é fraco, onda de verdade é isso aqui, ó! – Era maconha, o suficiente para nós três.

- Tá maluco, cara? Isso mata! – Eu disse, realmente preocupado.

- Isso é mito, cara, é possível vocês controlarem... Faz o seguinte, só dá um trago, se vocês não gostarem, não perturbo mais. – Rafaela não disse nada, apenas pegou o baseado e fumou, eu dei o primeiro trago, não senti nada demais e acabei fumando o baseado todo também.

Algum tempo depois, comecei a sentir uma grande sonolência e a dar gargalhadas do nada. Não era como o álcool, era mais esquisito, me senti extremamente leve, não sentia os meus braços, em muito tempo na minha vida, me senti absurdamente calmo.

Jorge acabou se enturmando com uma galera nova da Lapa, fiquei conversando com a Rafaela, que também estava na onda. Começamos um diálogo:

- Sabe, te falei que você está bonita hoje?

- Sim, duas vezes.

- Digo novamente.

- Obrigada... Novamente...

- Gostaria de chegar no futuro logo...

- Por que?

- Porque no futuro eu serei um grande escritor, como Nelson Rodrigues.

- Ou não.

- Com certeza vou ser.

- Como deve ser o futuro, como o mundo deve estar no ano 2000?

- Carros voadores, só penso nisso.

- Acho que vai continuar a mesma coisa de hoje, o ser humano é preguiçoso demais para inventar carros voadores.

- Rafaela, sabia que você é uma garota sem graça?

- Sim, sei.

- Mas mesmo assim eu gosto de você...

- Bem... Eu também...

Depois disso não lembro muito bem o que aconteceu, pois o efeito da maconha estava muito forte, só lembro que após esse diálogo, de alguma forma nós estávamos nos beijando, foi um beijo bem demorado, quer dizer, eu acho. Depois ficamos o resto da noite abraçados, voltei para casa, neste momento são 4 horas da manhã, o efeito da maconha passou um pouco.

Só sei que a partir de agora só estou conseguindo pensar na Rafaela...


Henrique Soares, 18 de Março de 1988.

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