Minha Vida Injusta - Parte 3: 22 de Fevereiro de 1985

Achei esse velho diário dos Beatles perdido em meu armário e resolvi voltar a escrever nele, hoje é o meu aniversário, estou fazendo 15 anos, não fui para a escola hoje, fiquei em casa, minha mãe me deu dinheiro para eu ir me divertir ou comprar algo. Como hoje é sexta, combinei com o Jimmy e com a Simone para irmos comemorar na Lapa, é a primeira vez que vou na Lapa, dizem que lá é legal, também é bom para o Jimmy e a Simone porque amanhã eles fazem 1 ano de namoro, o primeiro beijo deles foi no dia do meu aniversário do ano passado e no dia seguinte eles já estavam namorando.

O meu dia até que foi bem chato, fiquei ansioso para a noite, marquei com o Jimmy e com a Simone para virem aqui às 19 horas pra gente ir para a Lapa, eles chegaram atrasados, mas nem tanto. Fiquei surpreso, pois o Jimmy cortou o cabelo, desde o dia em que eu o conheci ele era cabeludo e agora está com o cabelo curto. A Simone estava bonita, mas não falei isso pra ela.

Pegamos um ônibus e chegamos à Lapa, ficamos perto dos arcos, quando cheguei lá fiquei meio decepcionado, era só um monte de gente reunida, uma espécie de encontro, dividido em bares e pubs, escolhemos um bar para ficar. Mesmo sentindo um pouco de vergonha, tentei falar com alguém, é bom fazer novas amizades, comecei a conversar com um cara chamado Jorge, ele parecia bem velho e acabado, perguntei a sua idade e ele me respondeu que tinha 16, fiquei surpreso, ele parecia bem mais velho, lá pela casa dos 30.

Conversamos por um tempo até que ele me ofereceu uma cerveja, eu nunca bebi cerveja pois achava que me tornaria alguém como o meu pai, uma pessoa violenta, mas como era o meu aniversário resolvi beber, tomei um gole e achei o gosto muito ruim, mas depois de beber mais um pouco comecei a gostar, após três copos comecei a ficar meio tonto e percebi que eu estava falando muito mais do que o costume, de alguma forma sabia que isso era efeito do álcool, achei legal, percebi que nem todos que bebem são iguais ao meu pai, a maioria dos bêbados são calmos e divertidos, então bebi um pouco mais.

Jorge me apresentou uma amiga sua, ela se chama Rafaela, é uma garota bem calma. Conversei com ela por um bom tempo, ela me deu o seu número de telefone e pediu pra eu telefonar, como eu não tenho telefone em casa, apenas peguei o número e abaixei a cabeça, talvez eu use algum orelhão ou peço para o Jimmy para eu poder telefonar para ela quando estiver na casa dele.

Depois de um tempo e muitos copos de cerveja depois, comecei a me sentir muito tonto, não sentia mais meu corpo, até que surgiu uma queimação estranha no estômago, comecei a passar mal, corri até um poste ali mesmo e acabei vomitando, eu estava realmente muito mal, vomitei bastante até que alguém se aproximou e falou comigo.

- Cara, você tá muito bêbado, termina de vomitar e vamos para casa. – Era Jimmy, ele também estava bêbado, mas bem melhor que eu.

Fomos embora, nem me despedi do Jorge e da Rafaela. Simone adormeceu no ônibus, ela também bebeu, conversei com Jimmy.

- Por que vocês bebem tanto e não passam mal?

- Já estamos acostumados a beber, o nosso organismo se fortalece, depois de um tempo você vai sentir isso. – Era isso, o Jimmy já estava acostumado a beber a mais tempo que eu, acho que ele bebe desde os 13 anos, logo o seu organismo era mais forte, do Jorge e da Rafaela então nem se fala.

Jimmy deixou a Simone em sua casa primeiro, pois é a mais próxima do ponto onde a gente desce do ônibus, logo depois ele me deixou em casa, tomei um banho frio pois ouvi falar que isso é bom para curar um pouco o efeito de álcool. Meus pais não me viram bêbado, já é tarde da madrugada e eles estão dormindo, eu estou sem sono, o efeito do álcool realmente passou um pouco, lembrei desse diário, resolvi procurá-lo para escrever e aqui estou eu.

Bem, acho que resumi o meu dia, não sei quando voltarei a escrever aqui, mas tentarei escrever mais.


Henrique Soares, 22 de Fevereiro de 1985.

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