Escrever sobre o ato de escrever é um dos truques mais antigos que os escritores utilizam quando não tem assunto. Além de geralmente sair algo brega (tipo “a aflição da página em branco” ou a “urgência para colocar para fora sentimentos em forma de palavras”), sempre me pareceu algo que se prestava muito pra auto-valorização e exaltação de uma atividade que, apesar de muito bela quando exercida por quem sabe, não é exatamente necessária. Ninguém precisa se martirizar para isso, faz quem tiver a fim, quem tiver talento ou quem abandonar qualquer padrão de qualidade e embaraço em publicar algumas coisas nem sempre tão criativas assim (eu).“The audience knows the truth. The world is simple. It’s miserable.
Solid… Solid all the way through. But if you could fool them,
even for a second, then you could make them wonder.
And then you… Then you got to see something very special.”
(Robert Angier -”O Grande Truque”)
Por isso, apesar de já ter refletido bastante sobre o assunto, sempre evitei falar sobre o que me levava a escrever algo que não listas de compras do supermercado ou emails corporativos (afinal, ainda que desajeitada e cambaleante, este blog é uma tentativa de literatura). Mas eu acho que essas linhas de “O Grande Truque” resumiram bem. Pra quem ainda não viu, o filme é basicamente sobre a rivalidade de dois mágicos que começaram juntos mas tornaram-se inimigos depois de um acidentalmente participa na morte da mulher do outro. O trecho aí de cima é durante uma discussão, já nas cenas finais, sobre as motivações de cada um pela carreira.
A discussão é sobre mágica, mas a fala é claramente uma metáfora do Nolan para o cinema e um dos princípios básicos de qualquer trabalho de ficção: a suspensão da descrença. A audiência, como diz o personagem do Hugh Jackman no filme, sabe a verdade. A platéia sabe que tudo que passa naquela tela gigante é apenas um filme. E no entanto, ainda assim continuamos a ser “enganados”. Deliberadamente deixamos nossas noções de realidade pra fora daquela sala escura, e nos permitimos acreditar, mesmo que por algumas horas, que existe mesmo uma princesa Leia a ser resgatada, que aquelas crianças realmente precisam salvar aquele ET, que aquele homem sozinho e de faixa vermelha na cabeça pode mesmo derrotar todo um comando do exército americano (ok, talvez esse a gente duvide um pouco, mas os tiros e as explosões são muito divertidas e o Stallone é demais).
E nós somos enganados porque queremos. Porque já experimentamos esse estado de suspensão e sabemos que é tão melhor que a realidade. É isso que eu acho tão especial em escrever. É o que a arte faz e eu não vejo muitas coisas mais bonitas que isso.
Ah. E tem também um lance de massagem ao ego, é sempre excelente receber elogios por meus textos, ainda que estes momentos sejam raros e que eu não saiba muito bem como me comportar quando alguém genuinamente e por vontade própria decide me dizer que eu fiz algo bacana. Por Deus, eu não sei nem o que fazer quando alguém curte meu post no Facebook (eu realmente acho que deveria ter um meio de curtir a curtida pra mostrar que eu estou muito grato). Eu sei que likes no Facebook e comentários elogiosos não são substitutos para o amor, mas me deixem. Não me julguem, apenas me elogiem.
NOTA: Eu sei que eu sumi no ultimo mês, é porque eu to passando por alguns problemas pessoais, mas vou voltar, prometo.
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